por Diácono Georges

Este mês celebramos, com toda a Igreja, a Festa de todos os Santos. Mencionaremos aqui, mais particularmente, vários grandes santos missionários que marcaram a história da Igreja.

Como tínhamos anunciado na nossa meditação de setembro, lembramos que o domingo, dia 17 de novembro, 33º Domingo do Tempo Comum, será consagrado a uma “Jornada mundial dos pobres”, decretada pelo Papa Francisco, em 2017. Nessa ocasião, o Papa deseja que todos nós peçamos, a graça de uma “conversão pastoral para ser testemunha da misericórdia”.

Os Apóstolos, sob a ação do Espírito Santo, deixaram a Palestina para espalhar o ensinamento de Jesus no mundo romano que, na época, era pagão. O cristianismo nascente implantou-se sobretudo na parte oriental do Império Romano (Mesopotâmia, Egito, Próximo Oriente) e formou algumas comunidades na Índia e na China. Tocou também as populações berberes da África do Norte (entre os quais se destacará, no início do século V, Agostinho de Hipona). Depois dos Apóstolos, devemos honrar aqueles que a Igreja nos apresenta e oferece como “os Santos Patronos das missões”.

– Francisco Xavier percorreu o Extremo Oriente anunciando a Boa Nova até o fim de suas forças, na Índia e no Japão.

– Sta. Teresinha do Menino Jesus, ela que foi missionária sem ter deixado seu Carmelo.

Tanto um, como o outro são, para toda a Igreja: “Padroeiros das Missões”.

A pessoa humana é, naturalmente, “mimética”, também a imitação é um dos grandes princípios da espiritualidade cristã. Peçamos a graça de reencontrar os santos padroeiros que nos deram o desejo da imitação e que nos guiaram na nossa vida missionária.

Sta. Teresinha do Menino Jesus declarava: “Oh! Eu gostaria de conhecer no Céu a história de todos os santos, mas não será necessário contá-la para mim porque seria muito longa. Seria necessário que, ao aproximar-me de um santo, eu conheça seu nome e toda a sua vida em um piscar de olhos” (Caderno Amarelo, nº 721).

A Igreja nomeou os santos padroeiros para os diferentes territórios

Os santos são aqueles que, durante a sua vida terrena, mantiveram uma tal amizade com Deus que conseguiram irradiar e testemunhar o amor de Deus a sua volta. Nesse sentido, tornaram-se um exemplo e uma fonte de inspiração original para muitos outros.

Faz parte da grande tradição da Igreja Católica, colocar certas atividades ou territórios sob a proteção particular de um(a) ou vários santos(as). Isso permite aos cristãos de se apoiarem em seus exemplos concretos e sua intercessão. É nesse sentido que a Igreja escolheu, para cada um dos territórios, santos padroeiros cuja santidade é expressa nas circunstâncias históricas particularmente significativas para seu país e continente.

Assim, para as Américas, Nossa Senhora de Guadalupe foi proclamada Imperatriz das Américas (pelo Papa S João Paulo II, no ano 2000); para o

Brasil, Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país. S. José também é o principal santo padroeiro das Américas, com Sta. Rosa de Lima, do Peru (que viveu nos séculos XVI e XVII) e que foi reconhecida como a primeira santa do Novo Mundo.

Para o continente africano: S. Cipriano de Cartago (no século III) e Sto. Agostinho (no século V) são os grandes santos padroeiros deste continente.

Quanto aos co-padroeiros da Europa, são hoje em número de seis: S. Bento (proclamado padroeiro da Europa por Paulo VI, em 1964), S. Cirilo e S. Metódio (proclamados co-padroeiros em 1980 por S. João Paulo II) e três santas (proclamadas co-padroeiras da Europa em 1999 por João Paulo II): Sta. Brígida da Suécia, Sta. Catarina de Sena e Sta. Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein).

Paulo VI apresenta assim as razões da escolha de S. Bento: “mensageiro de paz, fundador da vida monástica no Ocidente… ele e os seus filhos que, com a cruz, o livro e a charrua, levaram o progresso cristão às populações que iam do Mediterrâneo à Escandinávia, da Irlanda às planícies da Polônia”.

S. João Paulo II, preocupado com a unificação dos dois pulmões da Europa, propôs como co-padroeiros: Cirilo e Metódio, pioneiros da evangelização do Oriente. Inventores do alfabeto cirílico, traduziram a Bíblia em eslavo e se tornaram os atores da inculturação do Evangelho no mundo eslavo. Mas, S. João Paulo II quis, também, que fosse reconhecida a contribuição das mulheres na Europa com Sta. Brígida da Suécia (1303-1373), mãe de família antes de fundar a Ordem do Santíssimo Salvador, é sublinhada a importância do ecumenismo. Com Sta. Catarina de Sena (1347-1380), dominicana da ordem terceira, é o seu compromisso pela paz na política da sua época e a comunhão com o Papa, que foram postos em destaque. Por fim, com Sta. Teresa Benedita da Cruz (1891-1942), de nome civil Edith Stein, de origem judia tornada carmelita, que morreu em Auschwitz, foi através dela que a declaração de recusa das violações da dignidade humana e o sinal do diálogo de amizade entre judeus e cristãos foram, desse modo, realçados.

Os santos das cidades e os santos do campo

A evangelização da Europa ocidental concentrou-se sobretudo nas cidades (como em Roma, sob a ação dos Apóstolos Pedro e, depois em seguida, Paulo). Mas, para a maior parte da população dos campos, a expansão da evangelização foi mais tardia.

Certos eremitas, como Martinho de Tours, na Gália, no final do século IV, ou Patrick, na Irlanda, no século V, se consagraram ao mundo rural.

Um grande missionário do século VIII, que difundiu o Cristianismo na Europa Central é S. Bonifácio, que passou para a história como “Apóstolo dos Alemães”.

No século XII, o Ocidente percorreu, através dos pregadores itinerantes, consagrados à pobreza segundo o ideal da vida apostólica… Grandes congregações missionárias masculinas e femininas inscreveram na sua vida esta dimensão missionária itinerante (franciscanos, dominicanos desde o século XIII e ainda mais no XVI, jesuítas com Francisco Xavier, o primeiro companheiro de Inácio de Loyola).

Depois as congregações missionárias se multiplicaram no século XIX e fizeram o esforço de inculturação da fé cristã nas novas culturas.

As pequenas fraternidades missionárias itinerantes e as Comunidades santas

Sta. Catarina de Sena era acompanhada, nos seus deslocamentos, pela sua espantosa “brigada”, uma pequena comunidade residencial e itinerante formada tà sua volta e da sua missão.

S. Vicente Ferrier, contemporâneo de Catarina de Sena (1350-1419), percorreu a Europa ocidental, rodeado por uma comunidade ambulante: entre 150 e 300 penitentes, homens e mulheres, entre os quais, padres. Juntos, celebravam os ofícios litúrgicos, anunciavam o Evangelho e rezavam pelos doentes.

S. Luís-Maria Grignion de Montf
ort (1673-1716), vive seu ministério, indo de paróquia em paróquia, nas dioceses do Oeste da França, segundo os chamados dos bispos.

A Igreja celebra este ano o 370º aniversário (1649- 2019) da morte daqueles que chamamos os “Mártires canadenses” ou os Mártires da América do Norte: Jean de Brébeuf, Antoine Daniel, Gabriel Lalemant, Charles Garnier e Noël Chabanel, mortos em território canadense, numa região de Midland, Ontário; Isaac Jogues e dois Doados ou servidores voluntários, René Goupil e Jean de La Lande, mortos no atual território dos Estados Unidos, na região de Auriesville, Nova Iorque. Todos pertencem a esta equipe dos grandes santos que fundaram a Igreja canadense, com: Marguerite Bourgeoys, Marguerite d’Youville, Marie de l’Incarnation, Catherine de Saint-Augustin, Mgr de Laval e Kateri Tekakwitha, asceta Mohawk.

S. Pedro Chanel, primeiro mártir da Oceania (1803-1841), assassinado pelos indígenas, canonizado em 1954 pelo Papa Pio XII.

A Coréia foi evangelizada pelos leigos que buscaram livros cristãos… na China! 103 mártires, dos quais 10 franceses, no século XIX; houveram diversas ondas de missionários que encontraram uma série de dificuldades, mas enfrentaram tudo isso com muita coragem e zelo! Houveram 20.000 cristãos mortos em 4 anos…

Na África, o mais conhecido dos 22 santos ugandenses é, sem dúvida, S. Carlos Lwanga. Lwanga era um atleta de um grande vigor, que o rei Mwanga de Uganda o fez morrer de forma atroz. Este mesmo rei mandou matar cristãos católicos entre 1885 e 1887. Entre eles, o pequeno Kizito, 13 anos, tornou-se o mais jovem mártir africano. Da fogueira que os consumia, subia uma oração poderosa: “Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja vosso nome…”. Sabíamos que estavam mortos quando, da fogueira, não se ouvia mais subir a oração aprendida do Senhor.

A devoção popular aos mártires de Uganda teve uma expansão universal depois que S. Pio X os proclamou Veneráveis, a 16 de agosto de 1912. A sua beatificação teve lugar a 6 de junho de 1920. Após várias décadas de investigação foram canonizados, a 18 de outubro de 1964. Que belos exemplos, os dos santos missionários de todas as épocas e todos os continentes, animados apaixonadamente pelo desejo de fazer conhecer o Evangelho até às extremidades da terra!

Quantas cruzes erguidas nas encruzilhadas dos campos, nos países da Europa, são testemunho dessas missões que foram assim plantadas – com a inscrição do ano da missão – para fazer memória até hoje.

Pode ser que hoje, mais do que nunca, a nossa geração clame por santos! Onde estão os padres e os consagrados cuja única felicidade é falar de Jesus? Ela implora por novos Francisco, Domingos, Dom Bosco, Maria Goretti… Pedimos essa “nuvem de testemunhas da Fé” (Hb 12, 1) de que fala a Escritura.

Comunidades de santos, comunidades santas! O mundo precisa. Já existiram na história da Igreja, essas comunidades canonizadas (citemos, entre ela: “Os Servos de Maria”, no século XVII, “Os Servos de Jesus”).

Não pode existir nem santo, nem missionário, sozinho. É bom lembrar que o Senhor não “fabrica” santos para si mesmos, fora do corpo social, mas os suscita sempre, a partir de uma comunidade, de um corpo eclesial: “na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica de um povo” (Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, nº 6)

“Para a Igreja, ser missionária não significa fazer proselitismo.” (Homilia do Papa Francisco, dia 6 de janeiro de 2016)

Por fim, gostaria de dar a conhecer um trecho de um livro do Pe. Daniel-Ange, que foi publicado na França, em 1984. Estas palavras guardam ainda, para o nosso tempo, toda a sua força profética para os jovens santos missionários, dos quais a Igreja e o mundo sempre precisam:

“Nós os veremos cruzando nossos países, o Evangelho na mão, os olhos repletos de luz e cheios de verdade nos seus lábios, a audácia cravada no corpo. Entre eles, como a brigada de Catarina, tanto os jovens como as religiosas, as pessoas casadas e os padres: uma pequena parte do povo de Deus.

De cidade em cidade, de país em país, eles irão por toda a parte, onde uma angústia espiritual os chamar. Médicos disponíveis aos SOS, de dia e de noite, respondendo às urgências do Reino. Brigadas de Pronto Socorro repartirão, entre si, missões e regiões.

Saberão que a mais dizimadora das fomes é aquela em que a alma não é mais nutrida. A mais trágica das alienações, aquela em que o Adversário te seduz. A mais pesada das cadeias, aquela que te marginaliza a ti mesmo. E a mais infectada das feridas, aquela em que um veneno de morte envenena o sangue. Eles não poderão suportar tais situações (a ignorância, a indiferença e a recusa… do Amor) sem ficarem perturbados. Só Deus chora assim. Eles chorarão como Deus.

Eles tentarão entrar em hospitais psiquiátricos e prisões. Sabendo que a maior parte das doenças ditas psicológicas ou que a delinquência juvenil são, simplesmente, o resultado de carências de amor que só o encontro com o Amor poderá preencher. Eles saberão que o próprio Jesus pode curar, lá onde nenhum tratamento médico consegue, que o Seu Espírito pode descer em uma profundidade que nenhuma psicoterapia jamais alcançará. E essas coisas, a experiência os confirmará, dia a dia. Eles exercerão um acolhimento espiritual intenso. Os lares serão reconciliados, as comunidades se tornarão comunhões novamente, as vidas que envenenam com o rancor, se abrirão ao perdão. Libertos, os prisioneiros sairão de sua prisão. Só Deus pode amar assim. Eles amarão como Deus.

Com palavras de todos os dias, com as imagens tiradas de cada dia, eles proclamarão as verdades de sempre. Eles receberão uma palavra que elevará as multidões, mas tocando cada um como se ele fosse o mais precioso. Só Deus pode falar assim. Eles falarão como Deus.

Mendigando a Deus a palavra de cada dia. Seu pão de cada dia, esperando por seus irmãos. Acolhidos, hospedados, alimentados, quer eles lá estejam quer não. Mas sempre abençoando aqueles que não os abençoam.

Eles estarão atentos às moções do Espírito. Por vezes, eles quererão empenhar-se em tal objetivo, e o Espírito os impedirá. Outras vezes, eles irão para um lugar deserto e eis uma multidão que aí os precede. Eles lhes farão um bom acolhimento. Uma vez e outra, eles curarão os doentes, para ousarem dizer: ‘O Reino aí está, no meio de vós’.” (Pe. Daniel-Ange, Os santos do ano 2000, por que massacrá-los?, Ed. St Paul, 1984)