por Diácono Georges

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Neste mês de outubro, rezaremos em união com o Papa Francisco e todos os Bispos que estarão reunidos no Sínodo, em Roma, em torno deste tema: “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

 Em 2017, o Papa Francisco anunciou “um mês missionário extraordinário”, em outubro de 2019, sob a proteção de S. João Paulo II, ele mesmo um Papa missionário, para alimentar o ardor da atividade evangelizadora da Igreja.

 A 22 de outubro, dia em que celebramos a memória litúrgica de S. João Paulo II, confiamos à sua intercessão a missão da Igreja e de nossas comunidades no mundo de hoje.

 Há 41 anos, a 16 de outubro de 1978, na festa de Sta. Margarida Maria – e também de Sta. Edwiges da Polônia – o Cardeal polonês, Arcebispo de Cracóvia, Karol Wojtyla, foi eleito como Sucessor de Pedro. Ele iria transmitir ao mundo a herança de Sta. Faustina, a “Secretária” da Misericórdia Divina que ele canonizou a 30 de abril de 2000: ela foi a primeira santa do Ano 2000. Sua mensagem pode se resumir a estas palavras: “É necessário transmitir ao mundo este fogo da misericórdia”.

 Este mês começa também com a festa de Sta. Teresa do Menino Jesus, sua espiritualidade e sua “pequena via” inspiraram o título desta meditação.

 A evangelização reclama de cada um de nós um coração pobre

Como vimos no mês passado, se desejamos reconhecer o grito dos pobres, é preciso aceitarmos nossa própria pobreza e vulnerabilidade. Se eu não tremo antes de sair para um serviço missionário, como serei, verdadeiramente, um servidor dos pobres?

A missão é sempre uma escola das almas! Esta escola passa pelo mistério das pessoas que encontramos, e também por aquilo que se revela em nós.

No modelo atual de procura de sucesso, muitas vezes não é claro como dar sentido às ações que são investidas junto das pessoas mais frágeis, dos menos favorecidos, dos menos atraentes. Jesus, portanto, se identificou especialmente com os mais pequeninos. Ele nos lembra a todos, que somos chamados a cuidar dos mais frágeis (Cf. Mt 25, 40).

Quer sejamos padre ou leigo, desde que a nossa motivação missionária esconda uma busca de realização de si mesmo, na medida em que trabalhamos pelo cuidado da nossa própria reputação, ou para dar nome à nossa comunidade ou movimento; tudo isso prejudica a evangelização. Isso só nos leva a divisão entre cristãos e a nos deixarmos minar pelo espírito de competição. Esta missão não pode trazer grandes frutos espirituais!

 Pelo contrário, na medida em que anunciarmos as maravilhas de Deus na concórdia fraterna e que servirmos unicamente a Sua glória num espírito de humildade e de obediência, então descobriremos uma nova qualidade de escuta e os corações serão mais fortemente tocados.

 De fato, as pessoas ficam desarmadas diante de um coração verdadeiramente humilde e pequeno. Eu me lembro da visita de S. João Paulo II, à França, em 1996, por ocasião do 15º centenário do nascimento Rei Clóvis. Antes do evento, os jornalistas franceses se mostravam de tal modo críticos e arrogantes contra esse Papa doente e idoso, que deveria, de preferência, renunciar ao seu cargo. Mas o Santo Papa apareceu de tal maneira fragilizado pela sua doença e, sobretudo, tão pobre e numa pobreza tão exposta, que ele conseguiu transpassar os corações e transformar completamente os comentários que seguiram o evento! O homem de Deus desarmado tinha conseguido desarmar os jornalistas.

 O Pe. Cantalamessa declarou: “O caruncho da procura da glória própria não morre enquanto não provou a madeira da Cruz. Aceitar a Cruz, certas cruzes, é o único caminho para purificar verdadeiramente nossas intenções, chegar a morrer a nós mesmos e proclamar unicamente as maravilhas de Deus” (Artigo “O Espírito Santo, alma da evangelização”).

De fato, reconheçamo-lo, podemos muito facilmente desejar pregar e partir em missão, por motivos nem sempre evangelizadores! E que podem, até mesmo, estar longe da caridade cristã. Falta, então, esse amor puro e gratuito da compaixão por todos os que habitavam o coração de Jesus: “Ao ver a multidão teve compaixão dela, porque estava cansada e abatida como ovelhas sem pastor” (Mt 9, 36).

Pe. Cantalamessa prossegue: “Somos capazes de utilizar, para nossa afirmação pessoal, mesmo as coisas mais santas, até mesmo o serviço de Deus, até mesmo Deus! Somos ímpios, é melhor admiti-lo claramente” (Artigo “O Espírito Santo, alma da evangelização”).

 Na missão, precisamos pedir ao Espírito Santo essa presença de amor em nós, assim como a inspiração da Sua Palavra. Devemos ir em missão como mendigos: mendigando o amor para Jesus e mendigando o Amor desinteressado de Jesus para com os outros.

“Consideramos agora, brevemente, a própria pessoa dos evangelizadores. Ouvese repetir, com frequência hoje em dia, que este nosso século tem sede de autenticidade. A propósito dos jovens, sobretudo, afirmasse que eles têm horror ao fictício, aquilo que é falso e que procuram, acima de tudo, a verdade e a transparência. Estes ‘sinais dos tempos’ deveriam encontrar-nos vigilantes. Tacitamente ou com grandes brados, sempre porém com grande vigor, eles fazem-nos a pergunta: Acreditais verdadeiramente naquilo que anunciais? Viveis aquilo em que  acreditais? Pregais vós verdadeiramente aquilo que viveis? Mais do que nunca, portanto, o testemunho da vida tornou-se uma condição essencial para a eficácia profunda da pregação. Sob este ângulo, somos, até certo ponto, responsáveis pelo avanço do Evangelho que nós proclamamos.”

(Papa Paulo VI, Evangelii Nuntiandi, n° 76)

 Quem são os pobres que me chamam?

O Sucessor de Pedro nos adverte hoje sobre os seres humanos que são deixados para trás e que são os novos pobres que esperam nossa atenção e compaixão:

“É indispensável prestar atenção e debruçar-nos sobre as novas formas de pobreza e fragilidade, sofredor: os sem abrigo, os toxicodependentes,os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais sós e abandonados, etc. Os migrantes representam um desafio especial para mim, porser Pastor duma Igreja sem fronteiras que se sente mãe de todos.”

(Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n° 210)

Os pobres, não somos nós que os escolhemos, são eles que nos chamam e, por vezes, se apresentam às nossas portas. Esse encontro será, talvez, o ponto de partida da missão, aquela que nós não tínhamos previsto no programa.

“Quem dera que se ouvisse o grito de Deus, perguntando a todos nós: Onde está o teu irmão?’ </str ong>(Gn 4, 9). Onde está o teu irmão escravo? Onde está o irmão que estás matando cada dia na pequena fábrica clandestina, na rede da prostituição, nas crianças usadas para a mendicidade, naquele que tem de trabalhar às escondidas porque não foi regularizado? Não nos façamos de distraídos! Há muita cumplicidade… A pergunta é para todos! Nas nossas cidades, está instalado este crime mafioso e aberrante, e muitos têm as mãos cheias de sangue devido a uma cómoda e muda cumplicidade.” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n° 211)

 É pela força fraca que a oração confiante, a verdadeira humildade, o fato de se saber pobre, carente e vulnerável… É justamente assim que Deus nos chama e quer nos encontrar, para nos enviar em missão. Consideremos todos os homens e mulheres da Bíblia que Deus escolheu para uma missão particular: cada um era uma pessoa temerosa e vulnerável, mas Deus pode se servir de cada um, consagrando-o e revestindo-o de Sua força.

“Vede, pois, quem sois, irmãos, vós que recebestes o chamado de Deus; não há entre vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de família prestigiosa. Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura possa vangloriar-se diante de Deus.”

(1Cor 1, 26-29)

 “Os padres são, na mão de Cristo que age no alto dos céus, um pouco o que seria, na mão do escriba, a pluma encharcada de tinta, pronta a usar, convidando, de certa forma, ao livre movimento do escriba. O poder da ordem é, em relação ao poder sacerdotal de Cristo, um poder puramente instrumental. O que passa para o mundo, através dele, não é a pobreza do ministro, mas a riqueza de Cristo. E, quando o ministro for indigno, quando a hierarquia for invadida pelo mal, quando Judas dispensar o dom de Cristo, o dom de Cristo continuará a passar. Ele encontrará sempre corações abertos para o receber, uma terra fértil e profunda onde mergulhar as raízes.” (Cardeal Charles Journet, La Théologie de l’Eglise, p. 136, Ed. DDB).

Neste mês mais particularmente consagrado à oração do Rosário, peçamos à Virgem Maria que ela nos dê o seu estilo e o dos santos, nas nossas missões de evangelização.

“Há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. N’Ela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir importantes.” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n° 288)

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