por Diácono Georges Bonneval
O mês de agosto é um mês eminentemente mariano:
De fato, cada ano, no mês de agosto, a Igreja celebra três festas marianas:
A 5 de agosto, Maria é celebrada através da dedicação da Basílica de Sta . Maria Maior, basílica romana, primeira igreja do ocidente dedicada a Maria, logo a seguir ao concílio de Éfeso (em 431), que a declarou “Théotokos”, quer dizer, Mãe de Deus.
A 15 de agosto (no Brasil, esta festa é celebrada no domingo seguinte), Maria é celebrada através da solenidade da sua Assunção ao céu, com seu corpo e sua alma. Maria, primeira entre os que foram salvos, precede-nos e convida-nos a elevar o nosso olhar para a Jerusalém celeste.
A 22 de agosto, festa da coroação de Maria. A Igreja, ao longo dos séculos, saúda-a como sua Rainha, aquela que foi a primeira a servir e que permanece soberana medianeira da graça. Reza cada noite a Salve Rainha, inspirada por S. Bernardo de Claraval (século XII), reunindo-se ao seu redor: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve!”.
O tema deste Ano de 2018 está marcado pela espiritualidade mariana: de fato, o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional” está relacionado com o tema da JMJ 2018 (nas Dioceses): “Não temas, Maria, pois encontraste graça junto a Deus” (Lc 1,30); e o tema da JMJ 2019 (Panamá) é: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo Tua Palavra!” (Lc 1,38).
É sempre necessário e importante estabelecer um laço espiritual com a Virgem Maria, quer seja na nossa vida espiritual no quotidiano, quer seja nos tempos fortes de retiros e de discernimento.
Porque, de certo modo, Maria, como mãe, está sempre presente nas nossas vidas, particularmente em todas as etapas de “novos nascimentos”.
O instrumento de trabalho preparatório do próximo Sínodo sobre “Os jovens, a fé e o discernimento” destaca esta citação de um Padre da Igreja, um santo bispo sírio do século V:
“A sabedoria da Igreja oriental ajuda-nos a descobrir como esta confiança está enraizada na experiência dos ‘três nascimentos’: o nascimento natural, como mulher ou como homem num mundo capaz de acolher e de sustentar a vida; o nascimento do batismo ‘quando nos tornamos filhos de Deus pela graça’; depois um terceiro nascimento, quando ocorre a passagem ‘do modo de vida corporal para o modo de vida espiritual’, e que abre ao exercício maduro da liberdade.” (cf. Discurso de Filoxeno de Mabugo)
Através da Solenidade da sua Assunção ao céu e também com a memória da sua coroação como Rainha, a Igreja vem lembrar-nos que, em todo o discernimento e decisão que tomamos aqui na terra, nunca devemos esquecer o fim último: a dimensão celeste e eterna da nossa vocação!
O primeiro dom da graça que Maria nos obtém é o amor à Palavra de Deus, que ela soube guardar fielmente no seu coração, fazendo-a frutificar até ao fim – ela é a boa terra do Evangelho (cf. Mc 4,3-19) – no seu silêncio acolhedor e profundo. Palavra que gera e continua a gerar no seu seio maternal, a vida para todos os homens.
Mas, sobretudo, ela oferece a sua ação de graças, sua alegria, seu Magnificat: “Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus meu Salvador!” (Lc 1,46-47). O seu cântico é um dom supremo, tornado Palavra de Deus, na qual se encaixam as pistas para compreender o humano e o divino, para cada um se tornar, ele mesmo, um dom de Deus para o mundo, e posteriormente, um dom da humanidade para Deus, seguindo o exemplo de Maria, que nos precedeu nesta glorificação que nos espera.
“Herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, pois sofremos com Ele para também com Ele sermos glorificados. Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós.” (Rm 8,17-18)
A glorificação da Virgem Maria ao céu, terá a ver com cada um de nós?
Sim, porque cada um é chamado, por vocação a ser glorificado no céu! Glorificar-se nesta vida é orgulho e é sempre enganoso, é certo, mas Deus quer a glorificação no céu e Seu Senhorio, para cada um de nós, o que é outra coisa completamente diferente!
“Conheceis a este respeito o comentário de Santo Isaac, o abade de Stella, (monge do século XII): o que se pode dizer de Maria pode dizer-se da Igreja e também da nossa alma. As três são femininas, as três são Mães, as três dão vida. É preciso, portanto, cultivar a relação filial com Nossa Senhora, pois se ela faltar, haverá algo de órfão no coração. A um sacerdote que se esqueceu da Mãe, sobretudo nos momentos de dificuldade, falta algo. É como se fosse órfão, enquanto na realidade não o é! Esqueceu-se da sua mãe. Mas nos momentos difíceis a criança vai ter sempre com a mãe. E a Palavra de Deus ensina-nos a ser como crianças desmamadas no colo da mãe (cf. Sl 131, 2).” (Papa Francisco, dia 8 de maio de 2017, Discurso ao Colégio Pontifício Português de Roma)
O Concílio Vaticano II afirma que a Virgem Maria: “Tendo terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma” (LG, nº 59).
Maria que foi isenta do pecado pela graça a Imaculada Conceição, é isenta da corrupção do túmulo, pela graça da Assunção.
Com efeito, o dogma da Assunção afirma que o corpo de Maria foi glorificado depois da sua morte. A proclamação deste dogma (quer dizer verdade da fé cristã) é relativamente recente (1950), mas a festa da Assunção é muito antiga, porque é celebrada desde o século VII. Na tradição das Igrejas orientais é chamada “Dormição”. As primeiras indicações sobre a Assunção de Maria remontam ao período compreendido entre o final do século IV e o final do século V. Sto. Efrém, o Sírio (306-373) defendia que o corpo de Maria não sofreu a corrupção depois da sua morte.
Foi dia 1 de novembro de 1950, que a Assunção de Maria foi definida como um dogma de fé, através da Constituição Apostólica “Munificentissimus Deus” pelo Papa Pio XII.
Enquanto que, para todos os seres humanos, a ressurreição do corpo acontecerá no fim do mundo, para Maria, a glorificação do seu corpo foi antecipada por um privilégio muito particular.
Sua singular união com Deus, que se manifesta desde a concepção do Salvador no seu seio, a sua participação na missão salvífica do seu Filho e, sobretudo, pela sua associação ao sacrifício redentor, não pode deixar de nos indicar uma continuação depois da sua morte.
A sua Assunção ao Céu é fruto da sua participação única na vitória da Cruz.
Com a Assunção, a Mãe de Cristo entra na Jerusalém celeste para encontrar o rosto do Pai e do seu Filho. O caminho que ela começou indo à casa de sua prima Isabel, se termina no Céu.
Na viagem da sua vida, Maria nunca se separou do seu Filho.
A Igreja celebra, através dela, o mistério da nossa própria ressurreição que, na pessoa de Maria, já está anunciada.
A Festa da Assunção é uma festa de alegria, porque o amor venceu. A vida venceu. O amor é mais forte que a morte. Deus é vencedor e a Sua força é Bondade e Amor.
A Assunção é também a nossa festa porque ela celebra o que nós seremos definitivamente na nossa vocação celeste.
É uma festa de alegre esperança, para todos os crentes porque, em Maria, eles já podem contemplar que a vida não termina no vazio, mas no coração de Deus.
Maria, primeiro tabernáculo da Presença real de Deus no mundo, é a nova arca da Aliança, diante da qual o coração exulta de alegria, como o de João, o Precursor exultou nas entranhas de Isabel quando a Virgem Mar
ia visitou sua mãe, em Ein Kareim, perto de Jerusalém.
Maria é a Arca da Aliança, que nos mostra como, na nossa pequenez, devemos ser “arcas” vivas do Deus sempre conosco, “tabernáculos vivos” da Sua Presença.
S. João Damasceno (Padre grego, teólogo de origem síria 676-749), falando já sobre este mistério, ensinava: “Hoje, a Santa e Única Virgem é introduzida no templo celeste… Hoje a arca sagrada e animada do Deus Vivo, a arca que levou em seu seio, o seu Criador, repousa no templo do Senhor, que não foi construído pelas mãos humanas”.
E ele continua: “Convinha que aquela que tinha acolhido no seu seio o Logos, (A Palavra, O Verbo) divino fosse transferida para o tabernáculo do seu Filho… Convinha que a Esposa escolhida pelo Pai vivesse na morada nupcial do Céu” (Homilia II sobre a Dormição).
Que através da oração da nossa Rainha e Mãe, o Senhor vos obtenha a graça da fé e do discernimento nesta vida, não somente para esta terra, mas em vista da vocação perpétua das nossas vidas entregues a Deus, para sempre!
Oração de S. João Damasceno “Ó filha do Rei Davi e Mãe de Deus”:
“Oh mulher, filha do Rei Davi e Mãe de Deus, Rei do Universo! Oh divina e vivente obra-prima, na qual Deus Criador Se alegrou, de quem o espírito é governado por Deus e atento somente a Ele, e de quem todo o desejo se eleva apenas Àquele que é o único amável e desejável, que não te encolerizas senão contra o pecado e contra aquele que o fez nascer!
Terás uma vida superior à natureza, porque não é para ti que a terás, já que também não é para ti que tu nasceste.
Terás antes a tua vida para Deus, e é por causa Dele que vieste à vida, por causa de Quem servirás à salvação universal, para que o antigo desígnio de Deus, a Encarnação do Verbo e a nossa divinização, se cumpra através de ti.
A tua vontade é alimentares-te das palavras divinas e fortificares-te com a sua seiva, como ‘oliveira fecunda na casa de Deus’, como ‘árvore plantada à beira das águas’ do Espírito, como árvore da vida, que deu o seu fruto no tempo que lhe foi destinado: o fruto que é o Deus Encarnado, Vida eterna de todos os seres.
Guardas todo o pensamento saboroso e útil para a alma, mas todo aquele que é supérfluo e que seria um perigo para a alma tu o rejeitas ainda antes de o provar.
Os teus olhos ‘estão sempre voltados para o Senhor’, olhando a luz eterna e inacessível. Teus ouvidos escutam a Palavra de Deus e deleitam-se com a harpa do Espírito; foi por eles que o Verbo entrou para Se fazer Carne.
Oh filha de Joaquim e de Ana, oh Soberana, acolhe a Palavra deste teu servo pecador, mas inflamada pelo amor, e para quem tu és a única esperança de alegria, a protetora da vida e, junto de teu Filho, a reconciliadora e firme garantia da salvação.
Possas tu aliviar-me do fardo dos meus pecados, dissipar a névoa que obscurece o meu espírito e o peso que me agarra à matéria. Possas tu deter as tentações, governar felizmente a minha vida e conduzir-me pela mão até à felicidade do Alto.
Concede ao mundo a paz, e a todos os habitantes desta cidade uma alegria perfeita e a salvação eterna.”